Existem personagens que mais parecem saídos de uma criatividade que nos desafia, que nos deixa em constante conflito com os nossos maiores defeitos, ainda que sublinhando as nossas melhores virtudes.
De aparência frágil, revelando porém um carácter de caracteres dentro, o Ico Costa é realizador, ator, fotógrafo, escritor, e um grande, nem sei como diga, virtuoso. Da cozinha, às pedaladas pela cidade, aos esconderijos musicais, entre duas palavras e uma sopa caseira, tem sempre algo a revelar, sem truques daqueles de tirar da manga, ainda que também os conheça.
Um autor de espírito crítico, o que também podia ser por profissão, assim o quisesse. Mas é amigo do seu amigo. Há pois quem lhe chame cafageste, senil ou avozinho, mas a sua melhor definição talvez a desse ele mesmo, se como César Monteiro fizesse um filme consigo próprio.
De heróis só lhe conheço o Messi, com quem partilha a mesma paixão e a capacidade de fazer flexões, abdominais e fintas desenfreadamente. É assim um Argentino de coração, Moçambicano de adoção, Português sem destino fixo. Da costa até ao outro lado do Equador, onde também fez carreira. Um viajante pelo mundo e por universos que lê com atenção. E lhes dedica palavras atentas, pertinentes. Escutadas.
Podia viver que nem num King, boa vida e jogatanas o tempo todo, mas prefere encontrar-se entre as emoções dos mais simples, nos locais mais distantes, de onde lhe falam as vozes mais puras e autênticas. E delas escuta a sua própria, que se impõe ler cada vez mais. Faz anos hoje. A prenda que lhe pedi foi uma receita para uma liberdade interior. Serviu-me um fragmento da sua natureza. Não será aqui que nos encontramos, à procura da peça que falta para um todo maior?

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